Após dar que falar em território americano, o filme Diamante Bruto (“Uncut Gems”) está finalmente disponível para o resto do mundo. Quem viu Good Time (2017) já sabe o que esperar de um novo filme dos irmãos Safdie – uma “aventura” claustrofóbica, intensa e assustadoramente realista. Diamante Bruto cumpre todos os requisitos ao apresentar um surto de adrenalina e pânico durante as suas duas horas de duração que só deixa o espetador respirar quando aparecem os créditos finais.
A liderar-nos nesta viagem temos Howard Ratner: um ourives judeu nova iorquino, um homem com a vida a desmoronar, um viciado em apostas, um afogado em dívidas, um protagonista – e “protagonista” é aqui a palavra certa, porque de herói Howard Ratner não tem nada. A dar a pele à personagem está Adam Sandler. O ator já provou inúmeras vezes que, quando retirado de comédias e colocado num cenário mais dramático, é um ator mais que capaz de trazer uma excelente performance para a mesa. Com Diamante Bruto, Josh e Benny Safdie escreveram a personagem já com o talento de Sandler em mente, vestindo-o na pele da personalidade mais viva e insana da sua carreira.
A memorável performance de Adam Sandler permite ao espetador simpatizar com a personagem, mas reconhecemos sempre que o devemos condenar. Howard é uma figura caótica, um burlão que engana tudo e todos num círculo vicioso gerador de dinheiro e onde uma pequena falha leva o seu mundo a desmoronar. Mas por mais desprezível que seja, por detrás de todo o caos está um ser humano com uma grande crença em si próprio e que não consegue parar.
Durante as duas horas do filme, acompanhamos Howard enquanto vagueia pelas ruas do Diamond District de Nova Iorque no ano de 2012. Sempre num passo acelerado numa tentativa de organizar a sua vida conturbada, o protagonista cruza-se com uma panóplia de personagens, desde cobradores de dinheiro a vítimas de burlas da sua autoria e à sua família. É com estas personagens que Diamante Bruto abre a mão do seu elenco talentoso, com Lakeith Stanfield, Julia Fox, Idina Menzel e Eric Bogosian a interagirem regularmente com Sandler, cada um num papel relevante para o fluxo da história. A estrela de NBA Kevin Garnett e o músico The Weekend também têm lugar na narrativa e o seu destaque eleva-os ao nível de atores secundários, ao invés de simples cameos. Todo o elenco se esmera nas performances para dar à luz este “conto” moderno do mundo nova iorquino.
Mas o maior trunfo de Diamante Bruto é a realização confiante e segura do duo de irmãos por trás das câmaras. Josh e Benny Safdie exibem mais uma vez a sua mestria com uma realização claustrofóbica, mantendo a câmara frequentemente virada na direção de Sandler e perseguindo-o para revelar como este se safa das peripécias em que se envolve. Há sempre um tom de perdição que abraça o filme, um ar perturbador como se algo terrível pudesse acontecer a qualquer momento. As cenas são apresentadas de uma forma tão intensa que deixam o espetador sem ar – com destaque para o clímax da narrativa, que fica preso na cabeça após a obra chegar ao fim.
O argumento, escrito pelas mãos dos Safdie em conjunto com Ronald Bronstein, é fascinante na forma como organiza a vida caótica de Howard, recheado de surpresas atrás de surpresas que fazem qualquer um suspirar com as suas vitórias e derrotas. A cinematografia de Darius Khondji, que dá cor ao cenário mundano de Nova Iorque, juntamente com a banda sonora de Daniel Lopatin solidificam ainda mais o ambiente e a experiência da qual o espetador não consegue desviar o olhar, de tão preso que está à cadeira ansioso por descobrir o desfecho da história de Howard Ratner.
Review overview
Summary
Incríveis performances, uma excelente realização e um argumento inteligente e bem tecido fazem de Diamante Bruto um clássico moderno. Um ataque de pânico disfarçado de filme que deixa qualquer um preso ao assento, continuando a tremer muito depois do filme terminar.
Ratings in depth
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Argumento
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Interpretação
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Produção
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Realização