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Despindo o cinema português

© by Jorge Trêpa

Entre as muitas frases feitas com que algum público insiste em classificar o Cinema português – que provavelmente não vê – está aquela noção de que os filmes são uma sucessão de palavrões e nudez gratuita. Não nos interessa neste caso abordar a fundo tais ideias que decorrem da falta de conhecimento de quem as profere sobre a variedade da produção nacional que, apesar de todos os seus problemas, ainda existe. Interessa-nos precisamente o contrário, destacar os filmes que, de uma forma ou de outra, têm na sexualidade e no erotismo pontos de destaque.

 

E porque não começar desde logo pelo maior nome do nosso cinema? Não faltam na filmografia de Manoel de Oliveira momentos em que o desejo sexual é um dos principais motores narrativos. Mas Oliveira, como homem de outro tempo que foi, nunca explorou a sexualidade de forma bruta ou demasiado explícita, mas fê-lo frequentemente através de subtilezas tão simples como por exemplo filmando uma rosa. Podemos até referir-nos (porque não?) a um erotismo castrado pelos bons costumes burgueses, onde os desejos das suas personagens são muitas vezes levados ao limite. E como provocador que sempre foi até final, gostava acima de tudo prolongar esse desejo até ao espectador, como que o desafiando a ser ele próprio a procurar algo mais – recordamos a esse propósito Os Canibais (1988), título em que pela primeira vez utilizou Leonor Silveira, actriz que muitas vezes viria a ser por ele filmada precisamente como alvo dessa luxúria comedida, colocando a sua lente no peito da jovem onde uma flor branca simultaneamente nos chama a atenção e tapa o que por baixo dela se esconde. E esse desejo e a sexualidade humana são temas que percorrem toda a obra de Oliveira, no seu sentido mais simples e carnal (de Vale Abraão, em 1993 a Singularidades de uma Rapariga Loira, em 2009) ou no mais complexo, que se prolonga para além da vida e se fixa nos mortos (de O Passado e o Presente, em 1972, a O Estranho Caso de Angélica, em 2010). Sem esquecer, claro, que filmou a sequela de um dos mais conhecidos filmes eróticos do cinema europeu (ou como pelo menos acabou conhecido), Belle Toujours (2006), espécie de continuação da história de Séverine (agora com Bulle Ogier no papel originalmente de Catherine Deneuve).

 

De provocador para provocador, não poderíamos deixar de referir João César Monteiro, cuja persona que criou nas telas ainda hoje permanece como um dos mais singulares carnívoros do cinema nacional. Talvez o primeiro exemplo mais famoso coincida com a primeira aparição de João de Deus em Recordações da Casa Amarela (1989) que, louco de desejo, desafia as virtudes da menina da banda e a desnuda na sua própria cama após uma rejeição inicial, cobrindo-a de notas, isto já depois de ter ido procurar os seus pelos púbicos à casa de banho. Esse acto violento seria como que o despertar cinéfilo do Nosferatu português, mas as depravações de João não se ficaram pela personagem de Deus (…)


in Take 43 – Leia aqui o artigo completo
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