Share, , Google Plus, Pinterest,

Print

Posted in:

Blade Runner 2049

de Denis Villeneuve

muito bom

Mais que sequela ou replicante do original de Ridley Scott, Blade Runner 2049 é uma obra que, como os seus protagonistas, procura encontrar uma alma própria, algures entre a homenagem ao criador e um toque de genialidade.

 

E em 1982, Ridley Scott criou Blade Runner: Perigo Iminente.

Começa assim o texto para lembrar que é esse o momento definidor para quem entrar nas salas de cinema para assistir à mais aguardada (e inesperada) sequela dos últimos anos, o filme Blade Runner 2049, realizado por Denis Villeneuve.

Ao que parece, um dos piores defeitos do filme é apenas esse, o de existir, uma vez que, para muitos, uma sequela de uma obra considerada intocável é quase um crime, e isso será tido em conta por quem for ver esta actualização do universo criado por Ridley Scott a partir de um conto de Philip K. Dick. Mas não pretende este texto esgrimir sobre a problemática das sequelas, e sua necessidade artística na lógica de negócio do cinema de Hollywood, mas sim olhar para Blade Runner 2049 como aquilo que ele é, um novo projecto artístico construído sobre um universo temático já conhecido.

De créditos firmados e uma forma de filmar bastante elogiada, Denis Villeneuve encarou Blade Runner 2049 com um nítido respeito para com a visão inicial de Ridley Scott, nesta espécie de mito pós-moderno de Pinóquio – o menino que queria ser real. Está lá tudo: as dúvidas existenciais, os diálogos enigmáticos sobre o que representa ser humano e o elusivo papel da alma, a relação de prepotência entre camadas da sociedade, e o homem como mediador do divino. Está lá o negrume de existências e cenários, a maçadora chuva, os rostos sujos e sempre golpeados por murros, e os intrusivos video halls de uma Los Angeles opressivamente futurística, numa cenografia brilhante de Dennis Gassner. Está até a banda sonora, onde o geralmente explosivo Hans Zimmer optou por homenagear Vangelis, com temas que parecem variações dos originais, a ponto de estarmos sempre à espera que na curva da frase musical seguinte desemboquemos num tema conhecido (na verdade, um deles – “Tears in Rain” – é mesmo usado).

Está lá isso, mas muito mais. Villeneuve sai de Los Angeles e o universo expande-se, quer visual quer tematicamente, sempre com o cuidado de respeitar o passado, mas trazer alguma actualidade à história, onde a nossa presente obsessão com as relações virtuais ganha um interessante papel. Estão lá sugestões de respostas, mas sobretudo muito mais perguntas. Está, acima de tudo, a fotografia deslumbrante de Roger Deakins.

Dito por outras palavras, talvez o melhor de Blade Runner 2049 (ser extremamente fiel à sobriedade e ao universo do filme de Scott) seja também o seu pior (o não arriscar nada de verdadeiramente novo), pois isso não só o tolhe de movimentos, como o prende, por vezes, a estereótipos (como a aparição necessária de Harrison Ford, como apelo à nostalgia). Atente-se, por exemplo, em dois dos momentos iniciais: o primeiro confronto físico, com paredes a serem abertas a murro, e a primeira ida do protagonista (Ryan Gosling, numa excelente interpretação) à empresa que tudo domina, para ser recebido por uma irrepreensivelmente elegante figura feminina. Sentimo-nos imediatamente em modo déjà vu.

O conselho que fica é que Blade Runner 2049 é um filme para ver, não como uma sequela (não traz nada que seja necessário ao filme de 1982), mas sim como uma obra de pleno direito, uma visão pessoal e actualizada de um realizador que sabe o que faz e como o deve filmar. Isto é, e usando a linguagem do próprio filme, Blade Runner 2049 pode ter sido pensado como um replicante do original mas, nas mãos de Villeneune, foi encontrando a sua alma, numa relação de respeito pelo criador. Por isso, se nos alhearmos do filme de 1982, e pese uma excessiva pomposidade que aqui e ali é incomodativa, Blade Runner 2049 é uma obra admirável no domínio do cinema de ficção científica actual.

Review overview

Summary

Mais que uma sequela, Blade Runner 2049 é, nas mãos do sempre elegante Denis Villeneuve, uma obra de pleno direito, que respeita o legado original e deslumbra visualmente, actualizando a mensagem de Ridley Scott, sem arriscar em demasia.

Ratings in depth

  • Argumento
  • Interpretação
  • Produção
  • Realização
4 10 muito bom

Comentários