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[BEAST 2019] Summer Survivors

de Marija Kavtaradze

muito bom

Com uma banda sonora que se ajusta na perfeição ao ambiente terno, doce, melancólico e dotado de uma mescla de humor e drama do enredo, “Summer Survivors” surge como um road movie dotado de imensa humanidade, pronto a aquecer o coração e a criar um elo entre o espectador e os protagonistas. Uma ligação formada num período muito curto da vida de Indre (Indre Patkauskaite), Paulius (Paulius Markevicius) e Juste (Gelmine Glemzaite), em particular, durante uma viagem de Vilnius em direcção a uma unidade psiquiátrica situada em Palanga. Tal como numa parte considerável das fitas do género, a jornada conta com uma série de episódios que permitem dar a conhecer estas figuras e as suas especificidades, fortalecer as suas dinâmicas e colocar em perspectiva os seus receios, inquietações e desejos. Temas relacionados com a depressão, o transtorno bipolar, o suicídio, a solidão e a incompreensão no que diz respeito às doenças psicológicas são abordados com delicadeza, quase sempre com este trio e os seus intérpretes em foco. Diga-se que a tríade conta em alguns momentos com a companhia de Danguole (Vilija Grigaityte), uma enfermeira cuja saída de cena proporciona alguns dos trechos de maior humor da fita.

Indre é uma psicóloga e investigadora que pretende estudar os comportamentos das pessoas que padecem de tendências suicidas. Os seus planos iniciais são colocados em stand-by quando Algis (Darius Meskauskas), um psiquiatra experiente e deveras peculiar, decide colocá-la a cuidar dos pacientes da clínica para onde a protagonista se dirigiu no início da película. A necessidade de transportar Paulius, um doente que padece de síndroma bipolar, para uma unidade médica em Palanga, bem como de conduzir Juste, uma jovem adulta que tentou cometer suicídio, a esse local, leva a que a investigadora seja incumbida de conduzir o carro que leva a dupla. A partilhar o nome próprio com a personagem principal, Indre Patkauskaite é convincente a espelhar o lado introspectivo e recheado de inseguranças da investigadora, bem como a afeição que esta desenvolve em relação a Paulius e Juste. Markevicius imprime um tom inicialmente pouco falador à sua personagem, até demonstrar as dúvidas que a inquietam e deixar o sentido de humor deste indivíduo aparecer. É um elemento dotado de complexidade, que tem consciência do monstro que o consome e tarda em largar, com o actor a exprimir com desenvoltura a mescla de pessimismo e optimismo que rodeia este homem. Note-se os seus diálogos galanteadores junto de Juste, pontuados por alguma espirituosidade, ou o momento mais intenso em que expõe o modo como os outros se começam a desinteressar gradualmente da sua doença e, consequentemente, da sua pessoa.

Em determinado ponto da fita, um casal passa pelas imediações do meio de transporte e aproveita a presença do mesmo para escarnecer, fruto deste estar identificado como propriedade de uma clínica psiquiátrica de Vilnius. Pouco depois, Paulius tenta tapar as letras e esconder temporariamente o local de onde estão a ser transportados. É um episódio breve, mas sintomático de alguma da insensibilidade que existe para com os doentes e as doenças do foro mental, com “Summer Survivors” a não deixar de expor a mesma e os seus efeitos, enquanto exibe as inseguranças deste trio. Note-se o trecho no qual a psicóloga revela as razões para querer prever que alguém volte a tentar cometer suicídio, um desejo que serve ainda para abrir um assunto relacionado com o facto de nem os próprios suicidas terem conhecimento de quando vão ser apoquentados por esse impulso, algo que os consome e inquieta. Gelmine Glemzaite demonstra isso mesmo ao expor a dificuldade da sua personagem em reconhecer que está doente, bem como a dor que está latente numa aparente letargia. Quando chora, comove. Quando ri, percebemos o quanto o seu sorriso esteve preso nas masmorras da dor que consome a sua mente.

Glemzaite é fulcral para a personagem funcionar, seja quando a encontramos de ombros curvados, com uma atitude submissa, ou a efectuar um comentário espirituoso sobre Danguole, ou a chorar compulsivamente. A leveza e a crueza fazem parte dos episódios protagonizados pelo trio. O momento em que os encontramos a rir, num plano de conjunto composto para realçar a união entre os três, após perceberem que se esqueceram de alguém, funciona como um exemplo paradigmático da química que se forma entre Indre, Paulius e Juste. Estes protagonizam uma viagem marcante por algumas das estradas e espaços da Lituânia. Uma travessia em pleno Verão, uma estação propícia ao calor e à libertação, mas nem por isso capaz de iluminar todas as incertezas e problemas e transformá-las em certezas e soluções. A cinematografia, regularmente marcada pela sobriedade, deixa o destaque nos intérpretes, ao passo que estes beneficiam do trabalho seguro de Marija Kavtaradze, uma estreante na realização de longas-metragens que exibe aqui uma série de atributos que a tornam num nome a seguir com enorme atenção. “Summer Survivors” surge assim como uma bela e singela surpresa oriunda da Lituânia.

Review overview

Summary

Ratings in depth

  • Argumento
  • Interpretação
  • Produção
  • Realização
3.8 10 muito bom

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