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Annabelle 3: O Regresso a Casa

de Gary Dauberman

muito bom

Será que o Regresso a Casa foi tão aterrador como prometido?

 

Acompanhar o universo de “Invocação do Mal” tem sido uma verdadeira aventura. Para alguém que não é amante do género, é sempre um grande divertimento ir a uma sala de cinema para ver este universo ser explorado. Porém, se em algumas sagas cinematográficas a qualidade se vai deteriorando a cada filme ou spin-off, Invocação do Mal tem surpreendido. Afinal de contas, não é só os filmes de “Invocação” (2013, 2016, 2020), mas sim “Annabelle” (2014, 2017, 2019), “The Nun” (2018) e, mais recentemente “A Maldição da Mulher Que Chora” (2019). A fasquia vai-se elevando a cada sequela, mas com tanta história e uma linha cronológica a ficar cada vez mais recheada, como é que se comporta a terceira interação de Annabelle?

A premissa é excelente, e é com ela que o espetador começa o filme. Os Warren (Vera Farmiga e Patrick Wilson) acabaram de salvar mais uma família do poder demoníaco de Annabelle, colocando-a no banco de passageiros enquanto viajam até casa. A prestação e química dos atores é fabulosa em criar cenas cujo espetador consegue facilmente integrar-se na narrativa, levando-nos a focar toda a atenção nos diversos mistérios que vão acontecendo e potenciados pela boneca. O casal rapidamente compreende como esta é uma forma de atrair outros espíritos, o que leva a que o carro acabe por avariar em frente a um cemitério, com certas cenas a conseguirem assustador o espetador. O mais interessante destes momentos é como o argumento não cai nos sustos previsíveis, levando a que o espetador sinta uma ansiedade descomunal ao não compreender de onde poderá vir o elemento de terror.

A história vai desenrolando-se com ótimos elementos de realização que entregam um filme fluído. A própria banda-sonora não desilude, conseguindo dar ao filme elementos diferentes de filmes passados e que dão mais alma à narrativa. Em especial ao elenco jovem e protagonista da história. Tal acontece após os Warren trancarem a boneca numa caixa de vidro abençoado na mítica sala de artefactos, e partirem para um novo caso, deixando a sua filha – Judy (Mckenna Grace) aos cuidados de uma jovem ama (Madison Iseman). Estes eventos ocorrem de forma inteligente, respeitando a cronologia dos filmes e dando até respostas a questões levantadas anteriormente. 

O rumo seguido pelo argumento passa por nos mostrar mais da filha do casal, Judy, assim como dos problemas que enfrenta na escola ao sofrer de bullying por os seus colegas ficarem a saber que os pais têm como profissão o combate a entidades do Diabo. O sofrimento é potenciado por a jovem revelar a mesma capacidade psíquica da mãe, já explorada em filmes anteriores. Esta ao frequentar a escola vê constantemente o espírito do seu fundador, levando a que experiencie momentos pesados no ambiente escolar que se traduzem na postura que mantém ao longo do filme. O restante do elenco juvenil entra rapidamente em interação, com boas prestações e momentos ternurentos. As personagens são complexas e com um conjunto de histórias que potenciam o desenrolar da narrativa.

Com a saída dos pais e Judy entregue à sua jovem ama, Mary Ellen, esta e a sua colega de escola acabam por passar com Judy a tarde. Porém, é esta amiga de Mary, Daniela Rios, que liberta Annabelle da caixa sagrada após ter bisbilhotado a casa na tentativa de encontrar provas de atividade paranormal. Este momento no argumento parece demasiado forçado pela forma como acontece. Todavia, é com uma prestação e cenografia bastante comovente, que compreendemos que a personagem perdeu o pai há pouco tempo e quer tentar redimir-se do acidente que o vitimou e o qual esta pensa ser a culpada. A experiência corre mal ao ter deixado a caixa de vidro onde Annabelle estava, destrancada, levando a uma atividade nunca vista em qualquer outro filme.

Annabelle 3: O Regresso a Casa

Após estes eventos, toda a ação se passa envolta em tensão, em que os momentos de sustos esperados são repensados e de forma inteligente. A música, como sempre, assume-se como músculo importante e pulsante da narrativa. As personagens dançam neste ambiente tenebroso, mesmo quando o humor marca presença no filme. Este é elevado com a introdução de uma personagem masculina, interesse amoroso da ama Mary. Esta personagem introduzida de forma subtil é elemento fulcral na resolução de diferentes conflitos paranormais do filme, muito semelhante ao já explorado com A Freira (The Nun). Algo interessante, visto que o argumentista e realizador é o mesmo que o filme da freira maldita (Gary Dauberman).

Os momentos de tensão dão assim lugar a um filme cheio de interrogações narrativas tão bem respondidas com movimentos de câmaras inteligentes e que revelam diversos presságios do que virá a ocorrer. As conexões com os restantes filmes da saga são notórias, e acredito que qualquer amante do universo “A Invocação” conseguirá ficar satisfeito. Destes momentos, é de destacar a participação da atriz Samara Lee, a repisar o papel de Bee, que deu origem à história da boneca em Annabelle 2 – Criação (2017). Porém, e apesar da tensão e o medo consequente desta serem o grande pilar do filme, senti que o filme foi mais uma forma de testar e introduzir um conjunto de outras identidades demoníacas a serem desenvolvidas em possíveis spin-offs. A boneca continua tenebrosa, como sempre, e com uma realização que lhe dá mais alma e presença. Todavia, estando toda uma casa amaldiçoada, gostaria que o argumento tivesse seguido por um caminho que não só a tensão. A personagem Daniela foi, sem dúvida, das que mais sofreu – quer física, como emocionalmente -, levando a que o espetador sentisse a tortura que esta sentia. Momento este possível por Daniela ficar trancada acidentalmente na sala dos artefactos possuídos. Contudo, também o interesse amoroso de Mary entra em jogo neste momento, já que ao querer declarar-se à sua amada, se vê a enfrentar um lobo feito de névoa, atuando como elemento cómico do filme.

No final, e com uma resolução satisfatória e cheia de interação com diversas entidades, Annabelle volta a ficar trancada, situação resolvida pela esperteza de Judy e a sua ama, numa altura em que Daniela ficara possuída por uma identidade ao escapar da sala dos artefactos. Todo este momento foi sentido como alívio, levando a uma nova participação rápida de Vera Farmiga e Patrick Wilson, na pele do casal Warren. Uma vez que o filme atribui protagonismo à filha do casal, gostava que os atores tivessem tido uma maior presença no segundo ato. Porém, uma vez que a saga a que pertencem é à de “Invocação”, isso poderá ser desculpável. No final, e com uma grande componente humana, a ama de Judy incentiva-a a falar com os pais de tudo o que aconteceu, motivando interações familiares sentidas e bem realizadas.

Mal posso esperar por voltar a rever este filme, agora na sua ordem cronológica, e questionar-me até que ponto a história de Annabelle terminou…

 

Crítica assinada por Diogo Simões, leitor da Take Cinema Magazine e autor dos livros ‘O Bater do Coração’ e ‘Esquecido’

Review overview

Summary

A terceira presença de Annabelle no ecrã foi sentida de forma inteligente. Mas será que foi ela a verdadeira protagonista da narrativa?

Ratings in depth

  • Argumento
  • Interpretação
  • Produção
  • Realização
4 10 muito bom

Comentários