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Agora Estamos Sozinhos

de Reed Morano

muito bom

Depois da estreia em Meadowland (2015) e do mediatismo na série de TV História de Uma Serva (2017), Reed Morano mostra em Agora Estamos Sozinhos como a ficção científica pode ser simples e humana.

 

Conhecida mais como realizadora de televisão (tendo lançado e sido produtora executiva de A História de Uma Serva/The Handmaid’s Tale), que de cinema, e com mais créditos como directora de fotografia que como realizadora, Reed Morano traz muito dessa sua experiência para aquela que é a apenas a sua segunda longa-metragem: Agora Estamos Sozinhos (I Think We’re Alone Now, 2018).

Com a aura de nome do circuito independente – Agora Estamos Sozinhos estreou no festival de Sundance, como o seu antecessor, Meadowland (2015), tinha estreado no festival de Tribeca) – Morano realiza (e fotografa) um drama de ficção científica onde um contexto pós-apocalíptico é filmado com tons frios e negros, numa história que não podia ser mais quotidiana, a das solidões humanas e gritos desesperados por compreensão.

Tudo se passa num momento em que uma estranha doença terá dizimado a espécie humana, e encontramos Del (Peter Dinklage) completamente só na sua pequena cidade de 1 600 habitantes, onde mantém uma rotina rígida como sua principal companheira, e na qual se dá a tarefas como limpar a cidade dos corpos (e interiores de frigoríficos) em decomposição, e aproveitar aquilo que lhe possa servir – baterias e livros. É que Del é bibliotecário, e não deixa que um acontecimento tão mundano como o fim da espécie perturbe aquilo que mais preserva, o seu tempo longe das pessoas, imerso em livros, trabalhando com uma disciplina inabalável que faz o apocalipse parecer ordenado e bonitinho. Isto até que a chegada da ruidosa e algo inconstante Grace (Dakota Fanning) ponha tudo isso – principalmente a sua amada paz e sossego – em causa.

De um momento para o outro, essa tal de solidão surge-nos em diferentes variantes: da tarefa hercúlea de se ser (sozinho) responsável pelo mundo; à solidão trágica de estarmos rodeados de quem nada nos diz; passando pela que advém da necessidade de contactar outras pessoas. É que, se só estamos sós quando percebemos que não o queremos estar, Del vai fazer essa descoberta quando a solidão o atinge, fruto da companhia que se habituou a ter. A liberdade que Del procura no isolamento e a liberdade que Grace procura no companheirismo tornam-se então compromisso e aprendizagem de coexistência.

Sem querer filosofar muito, e deixando-nos apenas uma pincelada de um exemplo que serve como metáfora para a forma como vivemos as nossas solidões e procuramos ou não aprender a conhecer os outros, Agora Estamos Sozinhos vale pela sua bonita fotografia, e pelo modo como diz muito quando não precisa de dizer nada (tal como Del, sublimemente interpretado por Peter Dinklage), só é pena cair no erro de, por vezes (como Grace) querer dizer o desnecessário. Sem explicações cabais, sem morais, sem heróis à prova de fraquezas, o filme de Reed Morano passa por nós assim como a tragédia passa pela sua história, silenciosamente, mas deixando marcas.

Review overview

Summary

História humana de solidões e companheirismos inesperados, Agora Estamos Sozinhos é um conto pós-apocalíptico marcado pela poesia serena da câmara de Reed Morano.

Ratings in depth

  • Argumento
  • Interpretação
  • Produção
  • Realização
3.5 10 muito bom

Comentários