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[8 1/2 Festa do Cinema Italiano] Pecore in erba

de Alberto Caviglia

muito bom

Pecore in erba (2015), filme de estreia do jovem Alberto Caviglia, traz-nos uma pergunta. É possível fazer humor com temas tabu, como o anti-semitismo? A resposta surge na forma de um divertido mockumentary (falso documentário) sobre a vida do fictício Leonardo Ziuliani (Davide Giordano), um anti-semita nato, tantas vezes incompreendido.

 

Construindo um elaborado puzzle de entrevistas, fotos, reportagens, excertos de arquivo de televisão, pedaços de um suposto filme biográfico, e a participação de um enorme número de entrevistados (alguns dos quais conhecidas figuras públicas em Itália), Alberto Caviglia conta a história, desde o nascimento, do jovem de Roma, Leonardo, um rapaz que desde a infância mostra propensões de anti-semitismo, que vão condicionar toda a sua vida, a qual será vítima daquilo que os entrevistados apelidam, com grande vergonha, de «anti-semi-fobia».

Logo após os primeiros segundos do filme se percebe que estamos num território conhecido, se bem que pouco (e muitas vezes mal) explorado. É o terreno de Zelig (1983) de Woody Allen (de quem Caviglia adapta o nome do protagonista), das reportagens surrealmente pseudo-sérias dos Monty Python (com todos os intervenientes a falarem com uma pomposa seriedade, e onde não falta mesmo um confronto sobre a qualidade do latim de um texto), e do exemplo de This Is Spinal Tap (1984) de Rob Reiner, de que se vê um cartaz no quarto do protagonista. É um contexto surreal, onde se aceitam premissas incomuns (odiar judeus é normal, reprimir isso é vergonhoso), para desconstruir a lógica, já que por vezes é necessário baralhar e voltar a dar, para nos mostrar o absurdo de alguns conceitos que nos habituamos a aceitar como normais.

A imaginação é muita, e as situações são todas bem conseguidas, numa montagem viva e imaginativa. Temos uma Bíblia Redux (versão reduzida, por ser expurgada da palavra «judeu»); faixas de claque de futebol em anagrama, com frases inofensivas, coladas com velcro, que dentro do estádio se tornam em frases racistas; o kit Burning Love, para qualquer um poder queimar a bandeira de Israel; a Liga Nerd (uma referência à Lega Nord, partido político chauvinista da Lombardia), composta pelos maiores crânios do país, cansados de carreiras exigentes, que querem mudar para empregos simples e não podem, porque estes estão tomados por imigrantes. Cada frase é certeira, cada situação é subversiva, com Caviglia (ele mesmo de origem judia) a mostrar que se pode fazer piadas com tudo, de Maomé a Anne Frank, mas sobretudo com o modo de estar dos italianos, onde não faltam ferroadas às alienações do mundo moderno, como o futebol, os talk shows e as redes sociais.

É possível que um filme assim passe despercebido, dado vir de um realizador desconhecido, e não contar com actores de relevo. Se se tornar conhecido será, porventura, devido ao tema polémico. É possível que choque e seja atacado. Mas a ideia de Caviglia é simples e meritória. Não será a ridicularização a melhor forma de denunciar conceitos e posições que tão tragicamente têm atingido a humanidade? Já Benigni o pensara no seu A Vida é Bela (1997). Avalie-se Pecore in erba por essa coragem, e pela imaginação posta em cada sequência.

Review overview

Summary

Num mockumentary feito com imaginação e material diversificado, Pecore in erba conta-nos a vida de um herói da luta contra a anti-semi-fobia, numa Roma distópica onde o anti-semitismo é visto como uma forma de amor. É o humor subversivo, reminiscente de Woody Allen, Monty Python e Sasha Baron Cohen a espezinhar tabus.

Ratings in depth

  • Argumento
  • Interpretação
  • Produção
  • Realização
3.5 10 muito bom

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