Share, , Google Plus, Pinterest,

Print

Posted in:

[8 1/2 Festa do Cinema Italiano] Mediterranea

de Jonas Carpignano

muito bom

Num momento em que a crise dos refugiados está diariamente em primeiro plano, surge Mediterranea (2015), um filme de Jonas Carpignano, que conta, de modo documental, a aventura de dois migrantes do Burkina Faso, que tentam a sua sorte em Itália.

 

Primeira longa-metragem de Jonas Carpignano, filmado em Itália e Marrocos, numa co-produção que envolveu Itália, França, EUA, Alemanha e Qatar, Mediterranea mostra-nos Ayiva (Koudous Seihon) e Abas (Alassane Sy), dois cidadãos do Burkina Faso, que tentam melhorar as suas vidas na Europa. Vemo-los chegar à Argélia, arriscar a vida para chegar à Líbia e depois a Itália, onde procuram conhecidos, e um emprego. Aí começam as desilusões, o trabalho só se obtém com visto de residência, e este com emprego fixo. Sem dinheiro, vivem num bairro de lata, com Ayiva a tentar tudo para ser um trabalhador exemplar, enquanto o mais jovem Abas deixa a frustração envolvê-lo em protestos anti-racistas.

Finalista do Prémio Lux do Parlamento Europeu, para filmes que lancem em debate temas de interesse para a União Europeia, Mediterranea, que estreou na Semana da Crítica do Festival de Cannes é um filme quase documental, baseado em histórias reais, filmado com planos fechados, o uso extensivo de handycam, e uma proximidade ao rosto dos protagonistas que chega a ser invasivo, e claustrofóbico.

Essa sensação de desconforto é sem dúvida propositada, por um realizador que nos quer transportar para um mundo que nos é desconhecido, o mundo de quem chega em busca de um El Dorado, para ser vítima de dificuldades, desde as burocráticas à adaptação, a busca quase desesperada de soluções, a saudade da família e, por fim, a violência do racismo e chauvinismo.

Poderá ficar a pergunta sobre a veracidade do mundo descrito por Jonas Carpignano, e o seu ulterior objectivo. É verdade que o filme se preocupa em dar-nos conta das boas intenções de Ayiva e Abas, o primeiro, trabalhador dedicado, a sofrer pela filha distante, o segundo interessado em raparigas e redes sociais. Vistos por Carpignano, eles são pessoas que podiam ser ocidentais, que procuram divertir-se numa sexta à noite, procurar o melhor telemóvel, e tentar vencer no mundo do trabalho. O paralelo surge em vários pequenos exemplos, um dos mais fortes sendo o modo como a filha de Ayiva, tal como a filha do seu patrão, dança ao som de música pop. Essa visão cândida acompanha todo o filme, e é exacerbada na explosão de violência final de que os protagonistas são vítimas.

Se o filme consegue lançar esse olhar desmistificador sobre os imigrantes africanos, já terá cumprido o seu papel social, acrescenta-lhe o mérito de saber deixar a câmara rodar para captar os momentos de modo naturalista, saber usar o olhar expressivo de Koudous Seihon, e contar uma história humana, tocante, documentando o modo de vida dos imigrantes africanos em Itália, sem uma dramatização desmesurada.

Review overview

Summary

Documento naturalista da história que pode ser a de tantos imigrantes africanos na Europa. Filmado por Jonas Carpignano, a partir de histórias reais, Mediterranea é um olhar sentido, mas longe do sentimentalismo fácil, que tem na interpretação sóbria e sólida de Koudous Seihon o seu ponto mais alto.

Ratings in depth

  • Argumento
  • Interpretação
  • Produção
  • Realização
3.5 10 muito bom

Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado.