Nas florestas do noroeste americano Ben educa os seus seis filhos à margem da sociedade. Quando recebe a notícia de que a sua esposa, hospitalizada com transtorno bipolar, se suicidou, leva-os numa viagem ao Novo México para assistir ao funeral da sua mãe, apesar dos avisos do seu sogro de que o irá mandar prender caso interrompa a cerimónia. Matt Ross traz as emoções à flor da pele e a brutal honestidade com que dota Ben, é de igual forma desconcertante e inspiradora, mesmo em momentos como aquele em que dá a notícia da morte da mãe aos filhos. Entre o choque e a tristeza esta honestidade invoca-nos um respeito por Ben, independentemente da nossa opinião sobre o seu estilo de vida. A sua postura é radical mas a dinâmica interna da família, o seu equilíbrio, conhecimento e capacidades, recalibram o nosso próprio conceito de normalidade. De tal forma que, quando confrontados com a sociedade tal como a conhecemos, nos parece estranha e desprovida de sentido. A ironia é que esse é o dilema de Ben. Com que fim educa e protege os seus filhos? Apesar de inteligentes, fisicamente aptos, independentes e com uma rara inocência e fibra moral, de que serve tudo isso sem a experiência e o contacto humano? “Não sei nada que não tenha lido num livro”, queixa-se Bo, o filho mais velho. E com isto, o mundo de Ben é abalado nos seus alicerces.
Capitão Fantástico é um filme de actores, ou não fosse também Ross um. Num elenco que também conta com Frank Langella, Ann Dowd, Kathryn Hahn, e Steve Zahn, é difícil encontrar uma interpretação menor, talvez com a excepção de alguns momentos com os elementos mais benjamins do elenco, mas o foco vai inteiramente para Viggo Mortensen que carrega o filme aos ombros com uma interpretação de um personagem complicado, com a dose certa de confiança, determinação, honestidade e empatia para nos conquistar desde os primeiros momentos. Onde o filme vacila é ao nível narrativo, não tendo a força das suas convicções até ao cair do pano. Além de se escusar a lidar com as consequências dos actos das personagens na recta final tem uma resolução algo redonda e conformista, encontrando uma aparente resolução para os seus conflitos algures a meio caminho entre o ser extraordinário e a normalidade. Ainda assim é inegável o seu charme tocante e inspirador e coloca Matt Ross como um autor a ter em consideração no futuro.
Adorei o filme, tive o privilégio de o poder ver ontem.
É o filme que faltava para ver se de alguma coisa se muda um pouco a mentalidade humana